quinta-feira, 20 de junho de 2013

O dia em que a voz de Bernanke causou estrondo nos mercados

As bolsas europeias resvalaram como não acontecia desde Novembro de 2011 e o ouro e a prata não estavam tão baratas também desde 2011. São efeitos do anúncio da intenção de retirada dos estímulos monetários à economia norte-americana.

As bolsas europeias terminaram a sessão desta quinta-feira com uma quebra ainda mais expressiva do que a do início da sessão. Grande parte dos índices europeus recuou mais de 3%. Mas o cenário de perdas foi extensível a quase todos os activos dos mercados financeiros.

Alguns analistas falam numa reacção exagerada, dizendo que os investidores se centraram apenas na ideia de que os estímulos monetários nos EUA se estão a aproximar de um fim. Mas a verdade é que as perdas foram a palavra de ordem e o comportamento negativo intensificou-se ao longo da sessão.

No mercado bolsista do Velho Continente, o índice geral Stoxx Europe 600 perdeu 2,97%, aquela que é a maior descida desde Novembro de 2011. Praças como Lisboa, Madrid, Milão, Paris ou Frankfurt recuaram mais de 3%. Atenas perdeu perto de 4% e, entre as principais praças, apenas Amesterdão e Londres conseguiram registar descidas na ordem dos 2%.

Houve uma tendência de venda das acções, com os investidores a desfazerem-se das suas posições a preços mais baixos do que os de ontem.

A Reserva Federal norte-americana, o banco central nos Estados Unidos, determinou a manutenção das actuais medidas de estímulo à maior economia do mundo, além de ter antecipado previsões económicas mais optimistas. Nesse sentido, o seu presidente, Bernanke, fez um discurso na quarta-feira em que alertou que, se a economia continuar a mostrar que se está a fortalecer, as compras de activos poderão abrandar no final deste ano.

Wall Street prolongou as quebras de ontem, com descidas entre 1,34% do índice Dow Jones e 1,5% do tecnológico Nasdasq.

Ben e o efeito em Espanha

O mercado de dívida também esteve sob pressão. As taxas de juro associadas à dívida norte-americana, que já ontem tinham subido, estão hoje em valores que não eram registados desde Agosto de 2011.

O preço das obrigações caiu com alguma intensidade, o que fez com que as taxas de juro a elas implícitas subissem, um pouco por todo o mundo, desde países periféricos, como Portugal, a países mais fortes, como a Alemanha e os Estados Unidos. Até a dívida alemã, que é considerada um activo de refúgio entre as economias europeias, esteve pressionada pelas palavras de Bernanke, o que sinaliza que os investidores estão a afastar-se das obrigações.

Espanha realizou esta quinta-feira uma emissão de dívida e acabou por ser prejudicada pela instabilidadecausada pelo discurso de Bernanke. Apesar de terem sido emitidos títulos de três prazos diferentes, e de em dois deles ter baixado os juros, o mais significativo, a dez anos, registou um agravamento dos custos.

Ouro e prata em mínimos de 2010

Observando o mercado das matérias-primas e “commodities”, o cenário não muda. São as quedas que se destacam. O ouro tem vindo a cair e a onça do metal precioso está a recuar 4,41% para os 1.291,78 dólares. É o preço mais baixo desde Setembro de 2010.

Da mesma forma, também é necessário recuar à mesma data para que se observe um preço idêntico ao que a prata está hoje a marcar. O metal segue a afundar-se 8,2% para os 19,85 dólares por onça.

Os preços do petróleo recuam em torno de 3%. Em Londres, o barril de Brent do Mar do Norte segue a perder 3,02% para os 102,92 dólares ao passo que, em Nova Iorque, os contratos futuros de West Texas Intermediate negoceiam nos 95,49 dólares por barril, caindo 2,8%.

A expectativa de que os estímulos à economia sejam gradualmente retirados está, pelo contrário, a dinamizar o dólar. O euro segue a cair 0,47% face à moeda norte-americana para os 1,3232 dólares. A moeda dos EUA ganha terreno face às principais congéneres. A ideia de menores estímulos monetários antecipa menor oferta de moeda, o que leva a um aumento do seu preço.


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