segunda-feira, 19 de abril de 2010

Crise orçamental: Reino Unido pode seguir-se à Grécia

Há quem diga que a Grécia é um caso de excepção. Que como não conseguiu sanear as suas finanças públicas, precisa agora de inundar o mercado com obrigações do tesouro para financiar o seu excessivo défice orçamental. Mas há muitas vozes que apontam outros nomes no mapa como sendo os sucessores de Atenas. As opiniões dividem-se.

Portugal, Espanha, Irlanda, Reino Unido, Hungria... e vários outros países têm sido identificados como potenciais seguidores da Grécia no pódio das dificuldades. Com efeito, “quem será o próximo?” é uma das perguntas mais ouvidas nos últimos tempos e que é de imediato associada ao país que poderá seguir-se à Grécia no aperto das contas públicas e na eventual necessidade de um resgate.

E hoje, além da Hungria e Portugal (que Stiglitz diz que pode ser o próximo Lehman Brothers), também o Reino Unido esteve sob as luzes dos holofotes.

O “The Guardian” publica hoje um trabalho sobre as dificuldades com que o Reino Unido – às portas de eleições – se depara actualmente. E além das medidas que poderão, ou não, ser adoptadas depois de conhecida a composição do Parlamento, já em inícios de Maio, são também salientadas questões como a possibilidade de o país enfrentar um longo período de retoma lenta ou de ser... a próxima Grécia.

Esta não é a primeira vez que se fala na possibilidade de os britânicos serem quem está actualmente na pior situação depois de Atenas. Ainda na semana passada, Pierre-Olivier Beffy, do Exane BNP, disse que o Reino Unido poderá ser “a próxima preocupação do mercado”.

“A situação britânica é pior do que a de Portugal, Espanha ou Itália. O défice orçamental no Reino Unido está nos 11,8% do PIB – quase tão elevado como os 12,9% da Grécia”, sublinhou Beffy, citado pelo “London Evening Standard”.

Economia britânica repleta de incertezas

As incertezas em torno das perspectivas para a economia britânica são passadas a pente fino num estudo publicado este mês por Bill Martin, do Centre for Business Research da Universidade de Cambridge, e citadas hoje pelo “The Guardian”.

O estudo, intitulado “Reequilibrar a economia britânica”, analisa o desempenho da economia do Reino Unido entre 1995 e 2010 e traça dois cenários possíveis. No primeiro, tudo irá correr bem: o país sairá rapidamente da recessão, com as exportações a beneficiarem da desvalorização de cerca de 30% da libra esterlina desde 2007. Além disso, as subidas modestas dos preços das acções e das casas, bem como a crise da banca em processo de dissipação, contribuirão para sustentar este panorama.

Mas há um outro cenário bem menos cor-de-rosa, que realça as fraquezas do lado da oferta, incluindo a falta de crédito, o que impedirá que o Reino Unido aproveite o facto de ter uma moeda mais barata. Neste cenário apresentado por Bill Martin e divulgado pelo “The Guardian”, a economia britânica crescerá apenas a uma média de 0,9% e o défice orçamental manter-se-á nos 11% do PIB em 2014.

Grécia não é assim tão diferente...

E o jornal britânico cita uma outra voz preocupada: a de Dylan Grice, estratega do Société Générale. De acordo com uma nota de análise de Grice, nenhum governo calculou ainda o verdadeiro custo do fornecimento de cuidados de saúde e do pagamento de pensões a uma população em envelhecimento, ou sabe qual o encargo para as futuras gerações das parcerias público-privadas.

Segundo Grice, a maturidade da dívida grega é tanto um problema como o é esta questão para outros países ocidentais. Além disso, está previsto que o défice orçamental da Grécia em 2010 seja inferior ao dos EUA, Irlanda ou Reino Unido, por exemplo.

Apesar de o Reino Unido beneficiar de uma longa maturidade para a sua dívida, o que elimina parte das pressões de curto prazo que se colocam às obrigações governamentais, o certo é que o seu défice orçamental é muito elevado e a economia está bastante desequilibrada, num contexto de um sistema financeiro disfuncional, salienta o estratega, citado pelo “The Guardian”.

Mas a verdade é que o pressuposto de que os EUA, Japão e Reino Unido são demasiado grandes para irem abaixo pode... ir por água abaixo. “Se pode acontecer na Grécia, também pode acontecer em qualquer outro lugar, pois a Grécia não é um país assim tão diferente dos restantes”, advertiu Dylan Grice na sua análise.


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