quarta-feira, 1 de setembro de 2010

"Futebol francês está em perigo" devido a défices recordes

A edição de hoje do francês “Le Fígaro” anuncia que o futebol francês está a atravessar uma grave crise. Os clubes profissionais apresentaram um défice recorde de 180 milhões de euros. Campeonato da Europa de 2016 é visto como a luz ao fundo do túnel.

O modelo económico do futebol francês está a ser posto em causa, depois de os clubes profissionais franceses terem apresentado um défice de 180 milhões de euros (dos quais 140 são de clubes da primeira divisão). Um recorde absoluto que supera os 167 milhões registados na época 2002-2003, apontou hoje o “Le Figaro”.

O modelo económico francês é apontado como estando excessivamente dependente das receitas provenientes dos direitos televisivos, que apenas constituem entre 50% e 80% das receitas dos clubes. Vincent Chaudel, especialista do departamento de desporto da Ineum Consulting, aponta assim a diversificação de fontes de receitas como o caminho a seguir.

Uma das principais componentes das receitas dos clubes – as transferências de jogadores – está em declínio. O futebol francês, enquanto “viveiro” de muitos jogadores provenientes do continente africano, sempre foi um fornecedor de alguns dos melhores jogadores dos grandes campeonatos europeus. Visto que também os grandes clubes europeus se vêem a braços com crises económicas, nos últimos anos, com excepção de dois ou três clubes, os investimentos têm diminuído, e o futebol francês ressente-se disso. “Este défice deve-se mais a um declínio acentuado nas receitas relativas às transferências do que a um aumento acentuado das despesas que já tínhamos visto no ano passado”, defende Chaudel.

A este “desinvestimento” no futebol francês tem-se juntado um aumento do investimento deste noutros campeonatos. Os clubes franceses, nos últimos anos têm feito um esforço por melhorarem do ponto de vista desportivo. A este respeito, vejam-se os montantes envolvidos nas transferências de Aly Cissokho, Lisandro López e Lucho González, do Futebol Clube de Porto para Olympique Lyonnais e Olymipque de Marseille, respectivamente, que se traduziram na entrada de mais de 60 milhões de euros nos cofres do clube presidido por Pinto da Costa, no final da época 2008-2009.

Os patrocínios, a bilheteira e seus derivados são tudo segmentos em que o futebol francês é apontado como estando atrasado relativamente aos seus concorrentes. “O modelo italiano é ‘tele-dependente’, os clubes espanhóis vivem muito da quotização dos sócios, enquanto os clubes ingleses conseguem um equilíbrio entre os direitos televisivos e a bilheteira. Os clubes alemães aproximam-se cada vez mais dos ingleses”.

Para Chaudel, o investimento no aspecto desportivo não é suficiente para que o modelo económico seja viável. “A base de qualquer modelo económico em futebol é o de dispor de um grande estádio que permita gerar outro tipo de receitas”, afirma.

Campeonato da Europa de 2016 ao fundo do túnel

É neste sentido que vários clubes estão, de resto, a avançar. Com a vitória da candidatura francesa para a organização do Campeonato da Europa de 2016, vários são os clubes que planeiam construir, ou renovar, os seus estádios. Não foi assim há tanto tempo que a França organizou um Campeonato do Mundo de Futebol (1998), mas os efeitos que a competição teve no futebol do país já se desvaneceram.

O investimento anunciado ronda os 1,7 mil milhões de euros e contempla a construção de quatro novos estádios (Lille, Lyon, Nice e Bordéus) e a renovação de outros oito (Paris, Lens, Toulouse, Saint-Etienne, Nancy, Saint-Denis – construído propositadamente para albergar a final da competição de 1998 -, Estrasburgo e Marselha).

61% do montante será financiado pelo sector privado. De acordo com um estudo publicado pelo especialista em marketing desportivo, Sportfive, as reformas vão gerar 1,8 mil milhões em receita adicional anual para os clubes profissionais franceses.

"Ao contrário de 1998, quando dois terços do montante total foram investidos no Stade de France (Saint-Denis), para o Euro 2016, o montante será investido em vários estádios da Ligue 1. Isso significa que não será em 2016 que se verá o retorno do investimento neste evento, mas provavelmente em dois ou três anos ", disse Vincent Chaudel.

Mas estará o actual modelo do futebol francês verdadeiramente em perigo? "Eu penso que não, mas ele passou por um período difícil. Além disso, o futebol francês está a adaptar o seu modelo de negócio. Mas o processo começa devagar, porque, ao contrário dos seus homólogos europeus, a maioria dos clubes franceses não possui o seu estádio e ainda não enfrenta oposição a nível local ", defende Frédéric Thiriez, presidente da Liga Profissional de Futebol, mas alerta: "A situação é alarmante. Mesmo considerando que a perda líquida do futebol francês enquanto um todo é próxima das perdas individuais de alguns clubes ingleses ou espanhóis."


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