sexta-feira, 1 de julho de 2022

Agentes russos confirmam o envenenamento do opositor de Putin em “Navalny”

Não é só um filme biográfico sobre o mais célebre opositor a Putin. É a história de um homem que, após escapar por um triz a uma tentativa de assassínio, se insurgiu contra os altos poderes do seu país

Este filme sobre Alexei Navalny, adaptando a metodologia do documentário, começa curiosamente como um thriller de espionagem, acompanhando a equipa de investigadores que procurou e conseguiu desmascarar a tentativa de assassínio (por envenenamento) daquele político russo. A história do filme é coisa de fazer abrir a boca de espanto — e tanto mais por ser verdade. Se muitos analistas políticos falam hoje (desde que a guerra rebentou na Ucrânia) da ineficácia e da falta de preparação das forças armadas russas no terreno face ao que era esperado, então o que dizer dos serviços secretos do país que, graças a este documentário do norte-americano Daniel Roher, mostram andar pelas ruas da amargura?

É que em “Navalny” — pasme-se! — assistimos ao telefonema em que o próprio, fingindo-se passar por quem não é, faz ao agente secreto que lhe colocou o venenoso pó Novichok nas calças — e o pateta agente russo, que nem tonto enganado do lado de lá da linha, confirma tudo, tim-tim por tim-tim, julgando estar a falar não com o homem que envenenou mas com uma alta patente! Oh, que miséria indigna do legado de Khrushchov e Brejnev, capaz de fazer Estaline dar voltas no túmulo! É um momento extraordinário sobre o absurdo e o embaraço em que tombou o regime de Putin, episódio merecedor de deportação sumária para a Sibéria (à boa maneira soviética!), simplesmente vergonhoso para quem está a dar ordens no todo-poderoso Kremlin. É claro que Daniel Roher quer puxar por valores humanamente mais elevados, apresentando a figura do título como um herói corajoso que se bate contra o totalitarismo, em nome de algo que a Rússia — em boa verdade — nunca provou em séculos e séculos de história: democracia. E, contudo, é pelo “let’s make a thriller out of this” (as palavras são de Navalny) que vamos seguindo o fio à meada. Navalny, inclusivamente, goza com a sua própria mortalidade naquela Alemanha campestre em que convalesceu a convite da então chanceler Angela Merkel, isto é: estamos perante alguém que está a levar muito a sério o que faz sem que o filme abdique de um tom de brincadeira — coisa que assenta bem ao escapismo das plataformas de streaming que, como se sabe, não querem cá nada de desesperos...


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